Os 7 Poderes Taumatúrgicos da Viagem

Estou escrevendo este post enquanto faltam poucos dias para a minha partida para explorar a Tailândia, Laos e Camboja. E publico ele hoje que estou viajando.

Penso nesta jornada, mas também na Viagem em si.

No seu significado emocional, simbólico, fisiológico…

Em seus efeitos. Em seus poderes.

A viagem não começa quando partimos. Não quando saímos de casa e entramos no trânsito. Nem mesmo quando estamos a bordo do meio de transporte que escolhemos.

A viagem sempre começa com um “e se…”

Nesse exato instante, nossa mente já está em movimento.

O corpo ainda está em casa ou no escritório, mas o pensamento já deixou a sala.

Isso me lembra das viagens da imaginação que eu lia em “Alessio” quando era criança, um livro que todos deveriam ler, um livro que foi meu amigo imaginário e que me iniciou na viagem antes mesmo da própria viagem…

Em uma fração de segundo, já nos vemos viajando, já longe da paisagem cotidiana, já projetados para frente.

Decidir o que colocar na mala, escolher como se deslocar, com quais meios, a qual custo, são detalhes adicionais.

A força extraordinária da nossa imaginação não precisa de um bilhete para partir: assim que escolhemos ir, ela, a imaginação, começa imediatamente a fazer previsões e projeções. Em um piscar de olhos, ela já nos projeta para outro lugar.

Quando a viagem está em andamento e o corpo se move, enquanto o cenário externo muda, também muda o interno.

Atravessamos espaços e tempos, superamos fronteiras, passagens, montanhas e oceanos.

Fazemos isso em um sentido físico e simbólico.

Cada travessia é uma exploração. Cada exploração é um descanso, é uma “vacatio” literal, uma suspensão que nos abre novos territórios.

Cada novo território nos deixa um presente com poderes curativos, capazes de curar nossa alma, abrir o coração e às vezes até curar o corpo.

Os sete poderes curativos da viagem

  1. O Dilema
  2. A Espera e a Preparação
  3. A Descoberta do Outro
  4. A Maravilha da Diversidade
  5. A Descoberta de Nós Mesmos
  6. A Nostalgia
  7. O Retorno

O dilema: partir ou não partir?

“A única coisa mais impensável do que partir era ficar; a única coisa mais impossível do que ficar era ir embora.”― Elizabeth Gilbert, “Comer, Rezar, Amar”

Assim que nos perguntamos se devemos ou não viajar, enquanto uma parte de nossa alma já está no destino, outra parte lida com a rotina e os compromissos do dia a dia.

De um lado, a vontade de partir; do outro, mil compromissos na agenda, dúvidas e a resistência inata ao desconhecido. Não precisamos pensar conscientemente: sempre que imaginamos nos afastar do ninho, sentir um pouco de ansiedade não é apenas “normal”: é fisiológico!

A espera

“Nunca se esqueça de que, até o dia em que Deus se dignar revelar ao homem os segredos do futuro, toda a maior sabedoria de um homem consistirá nestas duas palavras: ‘Esperar e ter esperança’”.– Alexandre Dumas (pai), O Conde de Monte Cristo, 1844

A espera está cheia de sugestões, perguntas e esperanças.

Mas também de medos, pequenas e grandes ansiedades, outros “e se…”

De avanços e recuos…

Até o momento em que resolvemos o dilema. Até quando nossa alma se sente pronta para abraçar o desconhecido da viagem.

A partir daí, as nuvens começam a se dissipar e o caminho se revela, desenrolando-se diante de nós como um tapete mágico.

A descoberta do Outro

A exploração nos leva a um novo mundo.

Um mundo “Outro”, feito de paisagens, aromas, comidas, culturas diferentes do nosso cotidiano. Um universo de pessoas iguais a nós, mas ainda assim diferentes.

O mesmo esqueleto, as mesmas células, o mesmo sistema vital complicado sempre em busca de equilíbrio. As mesmas emoções. Mas roupas diferentes. Outros aromas, outros tecidos, arquiteturas e paisagens. Costumes e tradições aos quais não estamos acostumados.

Diante do mundo Outro, às vezes podemos nos fechar. Diante das diferenças, podemos nos encolher e deixar que o medo do desconhecido tome conta.

Essa reação e as emoções relacionadas são fisiológicas, até mesmo instintivas, porque a vida busca a sobrevivência evitando ao máximo a incerteza.

Por isso, biologicamente, os seres vivos preferem a familiaridade à incerteza, parentes aos não parentes, semelhantes a todos os outros. Essa é uma preferência que os seres humanos compartilham com os animais, mas também com as plantas, como as ciências botânicas têm demonstrado recentemente.

Ao contrário de outros mamíferos e vegetais, nós, no entanto, evoluímos graças à nossa capacidade de formar laços, como nos ensina Sue Johnson ao falar de Homo Vinculum.

Ao longo de duzentos a trezentos mil anos, crescemos graças às relações.

Graças à nossa capacidade de superar o medo do desconhecido, nos permitimos descobrir a maravilha da diversidade e seu extraordinário poder curativo.

A maravilha da Diversidade

Nos expor ao mundo Outro faz bem à alma.

Abre nossos horizontes. Nos mostra novos cenários. Revela possibilidades e realidades que antes eram desconhecidas. Nos torna um pouco menos fechados, um pouco menos hesitantes e muito mais abertos! E isso já seria muito, mas não é tudo!

Abrir-nos à diversidade não faz bem apenas à alma, mas é incrivelmente positivo também para o corpo.

Sempre que, por exemplo, experimentamos um alimento diferente do habitual, sem perceber, estamos melhorando a biodiversidade do nosso organismo. Sempre que mudamos de paisagem, incentivamos nosso cérebro a criar novas conexões.

A descoberta de nós mesmos

Explorar o mundo Outro também pode nos oferecer a oportunidade de uma viagem interna, à descoberta de nós mesmos.

Sair do ordinário para entrar no extraordinário, por um lado, nos permite experimentar a vastidão de outros universos. Por outro lado, pode nos ajudar a entender melhor o nosso, talvez até sentindo que não importa o quanto o outro esteja distante… porque, como nós, é uma pessoa que sente emoções mais ou menos intensas, mais ou menos agradáveis, mas todas válidas, todas ok!

Nos ajuda a reconhecer e revisar nossas prioridades, afastar-se da rotina nos faz reorganizar o tempo, as coisas realmente importantes a fazer ou deixar para trás. Nos faz selecionar e ficar no essencial, levar conosco uma pequena parte do nosso mundo para entrar em um mundo maior.

Nos torna mais flexíveis. E falamos muito sobre isso neste post, se você quiser se aprofundar.

Também nos torna mais pacientes, em uma viagem podem acontecer mil e uma coisas, que podem mudar nossos planos, nos colocar em condições de além de flexibilidade, também paciência, porque simplesmente algumas coisas não poderemos fazer todas de uma vez, ou às vezes não poderemos fazer por circunstâncias fora do nosso controle.

Nossa paciência é muitas vezes posta à prova em várias ocasiões, mas certamente também é fortalecida.

A nostalgia

A viagem também tem um sexto poder. O de nos fazer sentir nostalgia, um sentimento muitas vezes subestimado, quando não mal compreendido.

A nostalgia é um sentimento magnífico que nos fala de laços e raízes. De família. De apego.

A nostalgia nos lembra que há um mundo ao qual desejamos voltar.

Um lugar físico, talvez, mas sobretudo um lugar da alma, habitado pelas pessoas que amamos. Essas pessoas nos esperam. Estão lá por nós, para nos apoiar e nos oferecer seu calor.

O retorno

O sétimo e último poder da viagem está no retorno.

No momento em que a viagem termina, estamos de volta em casa.

Somos nós novamente, mas também somos novos, graças ao mundo Outro que exploramos e vivemos.

Compartilhar a viagem não é apenas revivê-la, mas inclui compartilhar nossas pequenas grandes descobertas.

Sejam corajosos, se puderem, viagem!

“Viajar? Para viajar basta existir passo de dia em dia como de estação em estação no trem do meu destino afastado das janelas e das praças nos gestos e nos rostos sempre iguais e sempre diferentes como no fundo são as paisagens.” Fernando Pessoa